Tuesday 26 April 2011

Medidas para todos

Parece que está "já em cima da mesa ... o pagamento dos subsídios de férias e de Natal dos funcionários públicos passar a ser feito em títulos do Tesouro." A ser verdade, não se entende o porquê de esta medida aplicar-se circunscritamente aos funcionários públicos. Dado que o objectivo da medida é aumentar a taxa de poupança e reduzir os custos de endividamento do estado, seria apropriado forçar também os empregadores no sector privado a comprar dívida pública e entregá-la aos seus trabalhadores, substituindo o pagamento em dinheiro dos subsídios. Deste modo não só se potenciava a redução dos custos de financiamento do estado, simultaneamente contribuindo para a maior equidade e eficiência da medida, como se cumpria parcialmente o papel da desvalorização monetária que está ausente desta equação, contribuindo para a redução nos preços sem redução nos salários nominais, o que geraria um aumento dos salários reais. Isto ainda podia ter um efeito marginal positivo sobre a taxa de desemprego.

Monday 25 April 2011

Valorização real do escudo


Dados da OCDE

Em relação à minha pergunta de quanto teremos de desvalorizar o escudo em termos reais, uma dica acima: os custos unitários do trabalho de Portugal subiram 23% em relação aos custos alemães, de 1999 a 2009. Para manter a competitividade que tinhamos em 1999 em relação à Alemanha será preciso que o escudo desvalorize 23%.

É o mesmo reduzir salários ou desvalorizar uma moeda? Não. Mantendo-nos no euro, uma redução nos salários nominais não irá afectar os preços um para um: é possível que uma parte da redução se traduzisse em aumentos de lucros, dado o nível pouco sério de concorrência no país. Além disso, a deflação que decorreria dos salários mais baixos iria fazer com que os salários reais não se reduzisem tanto, pelo que o efeito no emprego não seria muito forte. Se a moeda caisse 23%, os preços das exportações, no momento seguinte, cairiam 23%, e os preços das importações subiriam 23%.

Monday 18 April 2011

Sunday 17 April 2011

O a-socialista

O apolítico

Thursday 14 April 2011

Tuesday 12 April 2011

Requiem para o euro, ou uma metáfora simplista para a crise monetária real

O português tem um carro usado, uma coisa alimonada mas com algum trato, não sei a marca porque não percebo nada da metáfora que estou a usar. O carro no entanto dá um aborrecimento. Tem um furo no tubo de escape, na parte interior - a sério, não percebo nada do que estou a dizer -, e entra dióxido de carbono no carro. O português sabe como resolver: abrem-se as janelas, entra ar fresco e sair o ar poluído, e se é inverno, há crise - mas não há grande problema. Abre-se a janela, aguenta-se o frio, a chuva, e se cheirar mal pendura-se um daqueles tira-cheiros de baunilha. Não há problema profundo para a saúde. Apenas constipações. O carro, é claro, continua velho, não passa a ser uma bomba - mas o problema do dióxido de carbono resolve-se. E eis que de repente convencem o dono que o melhor que ele pode fazer é mandar trancar as janelas. Entrámos no euro.

Monday 11 April 2011

Quanto devemos desvalorizar a nossa moeda?

A questão colocou-se a Carlos Salinas em 1994, e ele enganou-se na resposta - acreditava que 15% chegava, mas não chegou - gerando aquele que ficou conhecido com o efeito tequilla. Tudo me leva a crer que, na cabeça dos políticos portugueses, a resposta em quanto devemos desvalorizar o escudo peca por defeito. O escudo continua a existir, simplesmente é mais difícil de vê-lo: ele não está nos preços que estão nas etiquetas nos produtos dos nossos supermercados, está na diferença entre estes preços e os preços na Alemanha. É essa diferença o escudo: e o escudo tem crescido, e crescido, e crescido, e agora é preciso decidir em quanto é que ele cresceu a mais. A diferença é que enquanto que antes a desvalorização do escudo implicava maior produção, agora, para desvalorizar o escudo - para que a diferença entre os preços em Portugal e na Alemanha baixe -, é preciso que a produção caia, ou que os salários e os lucros se reduzam, ou um misto dos dois, o que no fundo é o mesmo e implica uma redução na riqueza nacional: em quanto é que esta riqueza tem de cair para não termos um efeito bagaço?

É assim que esta coisa me parece ter acontecido

1 - Islandeses rejeitam pagar dívida ao Reino Unido e Holanda

2 - Reino Unido e Holanda vão levar Islândia a tribunal por causa da dívida

3 - Artistas que provocaram poder russo com pénis de 65 metros vencem prémio de inovação

Saturday 9 April 2011

Da euforia do liberalismo



É quase Maio, e florescem flores de euforia com a entrada do FMI por parte de uma certa direita. É quase Maio, mas ainda é Abril.

O principal argumento subjacente a esta euforia é que eles - o FMI - vêm pôr a economia e a política na ordem. Vâo cortar despesas, vão reduzir o tamanho do estado e, por consequência, da corrupção e do favorecimento de uma classe associada ao movimento partidário, que é viciada e pouco produtiva, em detrimento de premiar o mérito e o empreendedorismo. Esta é uma crença que se baseia na ingenuidade do liberalismo.

O liberalismo, como ideologia nascida e tornada possível com o iluminismo, funda-se na crença que todas as coisas boas vêm em conjunto. Os mercados livres premeiam o mérito, desincentivam os vícios e favorecem o desenvolvimento, a paz e a democracia. Esta crença não tem fundamento empírico nem respeita noções básicas de economia ou história. O desenvolvimento económico dos países, quer no século XIX quer no século XXI, foi feito com base na manipulação de mercados, incluindo uma forte intervenção estatal. Raramente se traduziram em processos pacíficos, que favorecessem o mérito e desincentivassem a corrupção e o vício. Quando permitiram a democracia, esta surgiu e tornou-se possível com base em esquemas de favorecimento de interesses da sociedade em detrimento de outros.

A narrativa do deslumbramento com a entrada do FMI, que é a mesma onde se baseiam as saudações às entradas do Banco Mundial nos países mais pobres, resulta deste vício intelectual do liberalismo: cortando despesas, limitando e moralizando o estado, vamos criar condições para uma economia mais forte, mais sólida, e isto é inquestionável. As entradas do FMI nos vários países sempre resultaram no inverso, e a explicação, como digo alguns posts abaixo, resulta de que gerir uma economia não é o mesmo que gerir uma casa de boas famílias, disciplinada e moralmente sã. Cortar despesas num período de recessão é uma receita pouco racional, fundada num preconceito ideológico, e que nos custará a recessão de uma geração.

Friday 8 April 2011

Thursday 7 April 2011

Nota

Uma das verdades económicas mais caras e menos compreendidas por muitos economistas é que gerir a economia de um país não é o mesmo que gerir a economia de uma casa. A principal razão económica - há várias de outra natureza - é que a fonte de rendimento de um agregado familiar não se reduz quando se decide reduzir a despesa: se não comprar o led ou se decidir passar a comer menos, isso não me irá fazer reduzir o ordenado, ou o rendimento dos investimentos financeiros que eu tenha. Mas num estado isso não acontece: quando se decide reduzir a despesa, por exemplo pagando menos aos funcionários públicos, ou investindo menos, isso implica no imediato uma redução no rendimento gerado no país. Por sua vez, isto gera uma redução na receita que se obtém por via dos impostos - provavelmente, menor do que o ganho na poupança, o que gera um ganho líquido para o estado, mas uma redução da riqueza gerada no país. Quando se diz nos autocarros ou na sede do PSD que as medidas de austeridade do FMI vão relançar a economia ignora-se esta verdade económica.

Wednesday 6 April 2011

História

Uma das frases mais repetidas nos últimos dias é a de que o FMI não é um papão. Ora, o FMI é um papão. E dizer o contrário esconde uma agenda ideológica pouco honesta ou, pior ainda, revela ignorância. O FMI foi construído com a única missão de ser papão. Nasce da ideia de que a forma mais eficiente de impedir uma política económica descontrolada é criar exemplos de sofrimento que inibam comportamentos perigosos. É aí que o FMI entra. Como emprestador de último recurso, os seus economistas são treinados para garantir que os países que a ele recorrem sofrem o suficiente para não cairem na tentação de repetir o erro, e para que os outros países também não o façam. Se o FMI não for papão, não está a ser FMI.

Do tratado de Versalhes

Um dia, dentro de vinte, trinta anos, o pacote de ajuda que entrará na próxima segunda-feira em Portugal conhecerá a mesma má fama do Tratado de Versalhes. A austeridade imposta com o objectivo único de criar sofrimento colectivo que sirva de exemplo para que mais nenhum outro país ponha em causa a paz europeia, e a recessão económica que gerará na Península Ibérica, na Irlanda e na Grécia, é, pior que sádica, contra-producente.