Monday 26 September 2011

A falácia do conservadorismo



O Miguel Sousa Tavares está, na SIC, a defender as touradas, digo, está a atirar-se àqueles que são contra as touradas - gente que diz ser, basicamente, ignorante. Como primeiro argumento, esgrime Miguel que os pintores espanhóis sempre pintaram touradas, e que os anti-touradas deviam questionar-se porquê. Não sei o que responderia Picasso, talvez o Woody Allen saiba, ou aquela senhora que fala com os se foram. A seguir remata com a velha questão pragmática de justificar, não os meios pelos fins, mas os fins pelos começos: como as touradas são a única motivação para criar touros, se terminam as primeiras, acabam-se os últimos. O mesmo, diz ele, aconteceria com a proibição da caça. Esta falácia, de justificar o fim pelo começo, é também a que está nas cabeças que dizem que tornar despedimentos mais baratos e fáceis é política que levará a melhor e mais emprego. 

Ou que a razão pela qual eu não deveria mudar de canal, e deixar de ouvir MST, é porque, ao fazê-lo, estou a contribuir para o tirarem do ar, e se o tiram do ar eu terei menos motivos para mudar de canal. Que era o que queria fazer para começar.

Saturday 24 September 2011

O que hoje penso de Woody Allen

A pergunta se um novo filme de Woody Allen é bom ou mau é um erro. Woody Allen, onde, na condição de alguém que ultrapassou os 30 anos, me alinho, não é o homem mais denso que anda para aí, mas é o mais compacto - quer dizer, imagine-se um ideia leve e pouco densa que é imperceptível quando liberta numa sala de boas dimensões, mas que se mantém intacta quando as dimensões da sala se tornam mais e mais reduzidas. A pouco e pouco vamos tendo menos acessório para reparar, e a ideia torna-se mais óbvia. O Woody Allen de hoje é a sala mais pequena onde ele próprio já guardou a sua ideia, e não tenho dúvidas que nos continuará no futuro a brindar com exercícios de contorcionismo mais extremos, cinicamente expondo que a sua ideia é tão pequena que vai caber numa sala do tamanho de um átomo, sem que sofra qualquer mutação - vai tornar-se pura, sem ar que nela se deposite, sem precisar de actores ou actrizes e muito menos de uma Nova Iorque do tamanho de uma Europa. Perguntar se um filme do Woody Allen é profundo ou não é como perguntar aos miúdos se um copo de 20 cl. alto consegue conter mais ou menos água do que um copo de 20 cl. muito baixo. Todos os filmes têm a mesma capacidade, só que se estão a tornar cada vez mais fininhos, cada vez mais translúcidos, onde cada vez mais só cabem as sombras dos actores, uma coisa que lhes tira a face, as expressões, onde a excentricidade sexual da Scarlett pode ser trocada por um tipo que fez um filme chamado wedding crashers, onde Roma pode trocar Paris e pode trocar Nova Iorque, e nada disso realmente interessa porque o verdadeiro actor, e local, é imutável e é Woody Allen. A ideia, essa, parece-me, e é ridículo expô-la, porque sinto que só vou saber exactamente qual é no seu último filme, é esta: o amor acontece por acaso, quando já não há mais nada que possa acontecer. É uma ideia paradoxal, e espero percebê-la melhor nos próximos filmes.

Sunday 18 September 2011

Economia necessariamente política


Quando os bancos dão o nome às salas de aulas de algumas faculdades de economia em Portugal - se tivermos em conta que já davam o que era ensinado, assumir a paternidade era algo que se impunha -, vale a pena ver este vídeo. A economia é política, e o resto é para os engenheiros e agiotas.

(visto hoje no eixo do mal)