Sunday 25 May 2014

UKIP

Escrevi este post há uns dias e acabei por não o publicar - mas, agora que estamos perto de saber os resultados das eleições europeias, o tema do post volta a ganhar interesse: se um partido fascista ganha eleições, o que é suposto os partidos mainstream fazerem? Incorporar os "anseios" dos eleitores, quando estes anseios são racistas, perigosos, ilegais? Toda a filosofia do "incorporar anseios" pouco mais faz do que tentar legitimar a ideia de que os partidos políticos em democracia servem para dar às pessoas o que elas querem. Isto está, no entanto, nos antípodas da forma como eu vejo a democracia. Os partidos não devem interpretar a vontade do povo e dar-lhes o que eles querem; devem propor ideias e lutar por elas, convencendo as pessoas. Ou morrer a tentar.

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O Nigel Farage - o líder do UKIP, o partido britânico que faz do abandono da UE a sua questão política mais moderada - foi atropelado numa entrevista de rádio. A coisa foi de tal ordem que o assessor de imprensa teve de vir em socorro do líder e interromper a entrevista. Eu não sou um fã deste tipo de jornalismo agressivo. Este tipo de exercício em hiperventilação, em que não se dá tempo para responder, não me parece muito eficaz. Primeiro porque, já se sabe, martiriza a vítima. Depois porque tenho dúvidas que possa ter algum efeito benéfico a longo prazo. O que é o melhor que pode acontecer? Uma redução no número de votos do UKIP, sim. Nesse caso, será um alívio - mas não uma vitória. Será uma espécie de "desta safámo-nos, mas para a próxima pode ser mais difícil". Esta luta constante contra pessoas e não contra ideias, nos seus momentos de alívio, costuma fortalecer ensinamentos como os que nos dizem que "ou os partidos mainstream sabem interpretar a vontade do povo, e absorvem as suas inquietações, ou estes partidos extremistas ganham". A consequência é uma absorção crescente da agenda dos partidos extremistas na prática política dos outros partidos, coisa que, aliás, já tem acontecido. O libdem diz nos tempos de antena que se sente o único partido que apoia a permanência na UE (e fá-lo com o slogan "stand tall in the world by standing tall in our backyard"). Os conservadores conseguiram afastar os búlgaros e os romenos durante anos. O Milliband não tem espaço político para afirmar que Farange é racista.
O meu ponto, afinal, é tão só que as entrevistas agressivas não devem ser feitas ao Nigel Farange, mas a uma parte do povo britânico. Pergunte-se ao homem da rua como é que ele acha mesmo que esta história de uma inglaterra para ingleses acaba. E também se pergunte se ele sabe como é que a economia britânica conseque inflação tão baixa, apesar de a banca de investimento continuar a dar prémios de milhões de libras em barda e apesar de os milionários do mundo todo continuarem a comprar propriedade à maluca. Ou isso, ou aparecerão sempre novos - e velhos - Nigel Farages.